Sónia e João J.mobilizam uma discussão colectiva sobre religião, na bancada central da Cozinha. Carlos vai e vem, mas o tema cativa definitivamente a atenção de Filipe, João M. e Cátia. Em causa não está apenas ter ou não fé. Além da existência de Deus, o grupo debate de modo aceso o papel da Igreja e «a hipocrisia de quem vai à missa todo o Santo Domingo», como refere Sónia, «mas mal sai cá para fora esquece-se logo de tudo!», como sublinha Carlos. João J. vai defendendo a tradição católica de Portugal e não desperdiça uma oportunidade para afirmar que «somos um grande povo», «com um passado de grandes e valorosas conquistas». As suas notas fazem a discussão derivar para outro plano. Carlos insurge-se com a ideia de que a crença de pais e avós possa «obrigar cada um a ter que acreditar e aceitar o mesmo Deus». Sónia é a voz mais crítica, especialmente no que toca ao papel da Igreja na sociedade. A crise económica que Portugal atravessa também vem à baila, com a rapariga a acusar a falta de solidariedade da instituição e a insensibilidade social «da maioria dos crentes». A conversa deriva para os apoios do Estado, para os cortes nos subsídios e para a legitimidade ou não da maioria dos que os recebem. Sónia e Carlos são os mais empolgados: evocam a vontade e o empenho «da gente do Norte» e consideram um escândalo «viver à custa de ajudas do Estado».